Considerações sobre a cirurgia do Recém-Nascido
A cirurgia pediátrica é reconhecida e consagrada como especialidade médica, fazendo parte da grade curricular dos cursos de medicina em todas as universidades, tratando crianças com patologias congênitas e adquiridas desde o nascimento até a puberdade. Destacou-se principalmente, pela correção com sucesso, de graves afecções cirúrgicas do recém-nascido. Isto passou a ocorrer devido ao grande progresso da especialidade nas últimas décadas , paralelamente à pediatria e neonatologia. A cirurgia na criança, logo após o nascimento é efetuada excepcionalmente, ou seja, quando o neonato é portador de malformações congênitas graves, que ameaçam sua vida, de modo que, se não corrigidas cirurgicamente, não poderia sobreviver. Dentre essas doenças, que põem em risco a saúde do recém-nascido, citamos algumas malformações pulmonares, obstruções do esôfago, do intestino e do ânus, determinadas anomalias obstrutivas do aparelho urinário, hérnias da parede abdominal, como a onfalocele e gastrosquise, hérnia diafragmática e alguns tumores como os teratomas volumosos da região sacrococcígea. São relativamente frequentes, podendo a maioria delas ser diagnosticada com segurança antes do nascimento, ou seja, durante a gravidez, por ultrassonografia. Isto propicia um acompanhamento gestacional rigoroso, conscientização dos pais sobre a patologia e prognóstico , com planejamento do nascimento da criança, no que diz respeito de como, quando e aonde será o parto, oferecendo assim uma ampla assistência médica ao nascer. Até alguns anos atrás, era um verdadeiro desafio operar um recém-nascido com poucas horas ou dias de vida. Hoje, com o conhecimento adequado da fisiologia da criança, o aprimoramento das modernas técnicas cirúrgicas e anestésicas, a nutrição parental prolongada , a monitoração não invasiva, a criação das unidades de terapia intensiva, isto tornou-se comum no âmbito da cirurgia pediátrica moderna. Ressaltamos a importância de uma estrutura médica hospitalar bem montada, específica para cirurgia neonatal, com tecnologia apropriada e material humano habilitado, para se conseguir bons resultados. Alguns sinais clínicos do recém-nato que podem ser indicativos de patologia cirúrgica são : vômitos geralmente biliosos, distensão abdominal, dificuldade respiratória, cianose, salivação excessiva pela boca e narinas, distensão abdominal, palidez acentuada, ausência de eliminação de mecônio , ânus imperfurado , alças intestinais evisceradas , massa no flanco e retenção urinária (bexiga palpável ). O diagnostico precoce é extremamente necessário e pode ser decisivo no prognóstico e sobrevida do paciente. Os cuidados intensivos no pré e pós-operatório são fundamentais para o sucesso cirúrgico, pois a assistência médica e de enfermagem passam a ser diuturnas, sem sofrer solução de continuidade, monitorando os sinais vitais, indicativos das condições clínicas. As cirurgias nessa época da vida são bastante delicadas e por vezes muito complexas. Dentre os fatores adversos ressaltamos :malformações associadas principalmente cardiopatias e anomalias cromossômicas, infecção, prematuridade, baixo peso , diagnóstico tardio e encaminhamento inadequado. Os recém-nascidos têm grande tolerância ao ato cirúrgico e excelente poder de cicatrização, desde que satisfeitas suas exigências e necessidades básicas e o ato cirúrgico seja efetuado em centro especializado , com colchão térmico e por profissionais com experiência nesta área específica da cirurgia pediátrica. O objetivo da cirurgia é corrigir essas malformações do modo mais fisiológico possível, para que a qualidade de vida dessas crianças seja normal, crescendo livres de sequelas orgânicas e emocionais, possibilitando uma infância saudável, pois elas serão os adultos de amanhã.
Dr. Wilberto Trigueiro – Especialista em Cirurgia Pediátrica pela AMB/ CIPE e Prof. de Cirurgia Pediátrica da FAMENE.