Influências Hormonais e Câncer Feminino
O câncer de mama é uma doença hormônio dependente. As mulheres sem ovários funcionais e que nunca receberam reposição estrogênica não desenvolvem câncer de mama. O estrógeno é um hormônio que, embora presente nos homens, tem uma produção principalmente ovariana, sendo predominantemente feminino. Devido ao fato de 99% dos tumores de mama acometerem as mulheres, levantou-se a hipótese de que esses hormônios ocasionavam o desenvolvimento da doença.
Na pré-menopausa, os estrogênios são sintetizados nos ovários. Após a menopausa, essa síntese é feita em tecidos periféricos, principalmente no tecido adiposo, mas também no próprio tecido mamário. Aromatases fazem a conversão periférica de androgênios e estradiol em estrogênios. Estudos demonstram que a perda de peso com consequente redução dos níveis circulantes de estrogênios diminui risco de câncer de mama, portanto, existe associação entre obesidade e câncer de mama.
A compreensão do papel em potencial dos hormônios exógenos no câncer de mama tem extraordinária importância, visto que milhões de mulheres norte-americanas fazem uso de contraceptivos orais e terapia de reposição hormonal (TH) pós-menopausa. Metanálises mais confiáveis sugerem que contraceptivos conferem pequeno aumento no risco de câncer de mama e efeito protetor significativo sobre tumores epiteliais de ovário e cânceres endometriais.
A TH possui efeito poderoso sobre risco de câncer de mama. Os dados do estudo Women´s Health Initiative ( WHI) mostraram que estrogênios equinos conjugados, adicionados a progestagênicos aumentam o risco de câncer de mama, porém, reduzem o risco de tumor colorretal. Um estudo paralelo do WHI não mostrou, em mais de 12. 000 mulheres tratadas com estrogênio conjugados isolados, o risco de câncer de mama. Em mulheres com diagnóstico de neoplasia mamária, a TH aumenta o risco de recorrência.
Cerca de 20% das mulheres após os 50 anos de idade apresentam hipotireoidismo e, segundo pesquisas, quando sofrem de tumor na mama, apresentam uma forma menos agressiva da doença. Pesquisadores acreditam que isso acontece devido aos receptores nas células tumorais da mama, que rejeitam os estímulos dos hormônios tireoidianos e do estrogênio, tornado o hipotireoidismo fator protetor contra o câncer de mama.
O câncer de endométrio é o principal câncer ginecológico baixo. Sua incidência tem aumentado em países da Europa e dos Estados Unidos, assim como em países em desenvolvimento, como o Brasil. As taxas de incidência podem ser até 10 vezes maiores nessas regiões, em comparação com países da África rural ou da Ásia. Esse incremento pode estar associado ao crescimento da obesidade nos países ocidentais, e com ela um excesso de estrogênios e hiperinsulinemia, sendo estes os responsáveis diretos pelo risco de câncer endometrial.
O câncer epitelial de ovário apresenta pico de incidência em mulheres em torno de 60 anos de idade. Fatores de risco hormonais podem ser associados, principalmente, à obesidade, nuliparidade e, provavelmente, TH. Fatores protetores incluem o uso de contraceptivos orais, multiparidade e amamentação, por provável supressão da ovulação.
Portanto, conclui-se que os principais cânceres femininos possuem uma associação clara com hormônios, com destaque para os estrogênios, tanto endógenos como exógenos. Essa compreensão é importante tanto para fins preventivos como terapêuticos.
Dr. George Robson Ibiapina